Semana de Arte e Ensino na ECA (Setembro de 1980)

Em setembro de 1980, foi realizada na ECA a Semana de Arte e Ensino, idealizada e organizada pela professora Ana Mae Barbosa, do Departamento de Artes Plásticas, com a colaboração de colegas e alunos de todas as áreas de humanidades da USP e todos os cursos da ECA (Cinema, Teatro, Música, Artes Visuais, Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade). O evento atraiu estudantes e professores de todo o país. Com 3 mil inscritos e a presença de palestrantes como o educador Paulo Freire, então recém-chegado do exílio, o evento mostrou a importância da Arte-Educação no Brasil e fomentou novas iniciativas na área. Este filme sobre a Semana de Arte e Ensino foi feito pelos alunos de Cinema de 1980 e faz parte do acervo pessoal de Ana Mae Barbosa.

Observação sobre os créditos do vídeo: A identificação dos participantes, que aparece ao final do vídeo, foi feita entre 2017 e 2018, no início da pesquisa de doutorado de Daniella Zanellato sobre a Semana de Arte e Ensino. Desde então, foram localizados outros dados e participantes do filme: os dois alunos que aparecem contracenando na peça de teatro e na entrevista com o professor Janô são Flávio Colatrello e Carlos Takeshi, alunos de Artes Cênicas da ECA. O nome da peça que estão citando é “Um Longo Caminho que Vai de Zero a Ene”, de Timochenco Wehbi, que também era professor da ECA. Outro nome é do maestro e também professor da ECA Silvio Bolonha. Walter Silveira oferecia o Ateliê de TV. E também Rudimar, à época estudante de Belas Artes da Universidade Federal de Pelotas (RS). Caso alguém identifique mais pessoas ou tenha outros dados, por favor entre em contato com Daniella Zanellato (daniella@usp.br).

Semana de Arte e Ensino

A Semana de Arte e Ensino aconteceu entre os dias 15 a 19 de setembro de 1980 na ECA, sendo organizada por Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, docente do Departamento de Artes Plásticas. Reunindo cerca de 3 mil participantes de todas as regiões do Brasil, dentre estudantes, arte-educadores, artistas e professores, contou com a parceria dos diversos departamentos da ECA e da USP nas conferências, debates, ateliers e na ampla programação artística e cultural.

Por meio de cartazes econvites que circularam em jornais e universidades, os interessados se organizaram em reuniões públicas, formando redes de articulação e mobilização. Constituíram comissões para definição dos eixos temáticos que chegaram a reunir 800 participantes debatendo os caminhos da Arte-Educação no Brasil. As sínteses das discussões eram compartilhadas entre todos, por meio de cópias mimeografadas diariamente por alunos-monitores, atualmente expoentes em suas áreas de atuação.

Dentre as conferências, destacamos a abertura proferida por Paulo Freire, que recém-retornara do exílio, cujo título “O retrato do pai pelos jovens artistas” foi batizado por Haroldo de Campos. Também dialogaram com os participantes Aloísio Magalhães, Hans J. Koellreuter, Mario Barata, Yan Michalski, Noemia Varela, Walter Zanini, Wesley Duke Lee, Aracy Amaral, José Miguel Wisnik, Thomaz Farkas, João Luis Lafetá, Marcelo Nitsche, dentre tantos outros nomes.

Nos ateliers e apresentações culturais, foram marcantes a atuação de Evandro Carlos Jardim, Ingrid Dormien Koudela, Alice Brill, Maria Duschenes, Roberto Sandoval, Silvio Bolonha, Caio Pagano, Willy Correia de Oliveira, Antonio Januzelli (Janô) com peça de Timochenco Wehbi, além das performances apresentadas nos gramados da ECA.

Dos cursos oferecidos por estudantes da ECA, o “Ateliê de TV” por Tadeu Jungle, Walter Silveira, Ney Marcondes e Paulo Priolli constituíram o TVDO, integrante da nova geração da videoarte no Brasil.

De maneira concomitante, acontecia o 1º Congresso da Universidade de São Paulo, organizado pela Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp), que buscava responder a indagação “Para onde vai a USP?”.

Durante a pesquisa de doutoramento localizamos importantes arquivos documentais e iconográficos realizados especialmente para a Semana, a saber: o cartaz original com projeto gráfico coletivo com Guto Lacaz; jornal “Artimanha” realizado pelos alunos do curso de Jornalismo da ECA; os originais do “Programa”, “Manifesto” e síntese das plenárias, guardados todos esses anos no Peru pela arte-educadora Myrian Montiel, ex-aluna da FAU-USP e de volta ao Brasil para participar da Semana, ao lado de Noemia Varela; o vídeo “Ateliê de TV”, integrante do acervo pessoal de Walter Silveira, do TVDO.

Do acervo de Ana Mae Barbosa, destacamos o vídeo documentário realizado pelos alunos da ECA e coordenados pelo professor Francisco Cassiano Botelho Junior (Chico Botelho), além das cópias de contato de fotografias realizadas à época pelos alunos da ECA e na qual trabalhamos na recuperação, identificação, análise e transcrição.

Dos resultados da Semana culminaram um “Manifesto” que, dentre outros, desencadearam a criação da Associação dos Arte-Educadores do Estado de São Paulo (AAESP), célula da Federação dos Arte-Educadores do Brasil (FAEB), fortalecendo ainda a criação da primeira pós-graduação na área de Arte-Educação, responsável pela formação de docentes e pesquisadores de universidades públicas do país.

Representando um marco de politização para a organização da área de Arte-Educação no Brasil, do ponto de vista político, de formação e teórico, destacamos a Semana de Arte e Ensino como um “grito de liberdade”, fortalecendo os propósitos de luta, por meio da memória e da história.

Em meio as homenagens concedidas a Ana Mae Tavares Bastos Barbosa com o merecido título de professora emérita da ECA, destacamos que a pesquisa de doutorado não seria possível sem a confiança dessa querida mestra, que nos honra com sua orientação e afeto.

Il primo amore non si scorda mai,

Daniella Zanellato (doutoranda em Artes Visuais pela ECA-USP, sob a orientação da professora Ana Mae Tavares Bastos Barbosa)

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