
Em abril, o Cineclube ÁgoraECA apresenta documentário sobre a trajetória do grupo trotskista que liderou passeatas contra a ditadura durante o AI-5 e inspirou o poeta Paulo Leminski
Sobre o filme
O longa-metragem “Libelu – Abaixo a Ditadura”, do diretor Diógenes Muniz, foi o vencedor da Mostra Competitiva do festival É Tudo Verdade 2020, o maior festival de documentários da América Latina.
Bianka Vieira, ecana da turma de Jornalismo 2015, foi assistente de direção e pesquisa do filme.
Fruto de quatro anos de pesquisa, o filme narra a trajetória da controversa tendência estudantil Liberdade e Luta, em que militaram diversos ecanos, como Cadão Volpato, Demétrio Magnoli, Eugênio Bucci, Fernanda Pompeu, José Arbex Junior. Entre outros nomes conhecidos que foram entrevistados para o filme estão os do ex-ministro Antonio Palocci, do crítico gastronômico Josimar Melo, do economista Eduardo Giannetti da Fonseca e dos jornalistas Reinaldo Azevedo e Laura Capriglione.
“A partir da metade dos anos 1970, quando a luta armada já havia sido dizimada e ainda não havia greves operárias no ABC, o movimento estudantil começou a se rearticular. Uma onda de passeatas saiu dos campi para as ruas e desafiou o regime. Isso culminou com o surgimento de uma esquerda mais arejada culturalmente, menos sisuda em termos de comportamento. É sobre essa geração que o filme fala”, diz o diretor Diógenes Muniz.
Após cruzamento de dezenas de relatos, a equipe do longa decidiu realizar as entrevistas do documentário no icônico prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), projetado pelo arquiteto Vilanova Artigas, que também foi perseguido pelo regime militar e precisou se exilar.
O diretor de fotografia do documentário, Felix Lima, conta que “a decisão de rodar tudo numa única locação acabou tendo papel fundamental na elaboração visual do filme. Foi uma autoimposição e um desafio para a fotografia. Era importante trazer os entrevistados de volta a um espaço que reavivasse suas memórias afetivas e políticas”. A exceção foi a entrevista de Antonio Palloci, concedida durante prisão domiciliar.
Letícia Friedrich, produtora-executiva do projeto, destaca a atualidade da obra: “Apesar de ser um resgate de um evento que se encerrou entre os anos 1970 e 1980, o filme dialoga de maneira assombrosa com o país hoje”.

Sobre o diretor
Formado em Jornalismo pela Cásper Líbero, Diógenes Muniz é pesquisador, diretor e roteirista. Trabalhou na Folha de S. Paulo por oito anos, onde ajudou a criar e foi editor-adjunto da TV Folha. Dirigiu a Trip TV (à época na Band e na Netflix) por dois anos e meio. Também foi assistente de direção na Globo por sete anos, tendo sido responsável pelos minidocumentários veiculados no programa “Conversa com Bial”.
“Libelu – Abaixo a Ditadura” (2020), seu longa-metragem de estreia, venceu o 25º É Tudo Verdade e foi exibido no 48º Festival Sesc Melhores Filmes. Também dirigiu os curtas documentais “Pivetta” (4ª Mostra Sesc de Cinema; Semana Paulistana do Curta-Metragem 2021 – CCSP; MLFF 2020, entre outros) e “Linha Cruzada” (23º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte).
A primeira vez que cruzei com o tema do filme foi num poema do Leminski dedicado à Liberdade e Luta. Fiquei curioso com esses caras que eram tratados como incorruptíveis e idealistas pelo poeta curitibano. Percebi então que, se quisesse contar a história da Libelu, teria que fazer dois resgates. Primeiro, um resgate histórico, com reconstrução dos fatos políticos daquele período. Pouco se fala sobre essa resistência que, comunista e em boa parte clandestina, não pegou em armas e acumulou vitórias sobre o regime militar. Mas o filme também teria que fazer um trabalho de resgate íntimo – afinal, o que a vida adulta reservou para aqueles jovens revolucionários?

Para a liberdade e luta
(Paulo Leminski)
Me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
Me enterrem com meu coração
na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão.
Sobre a Libelu
Liberdade e Luta foi uma tendência estudantil universitária surgida em 1976. Impulsionada por uma organização clandestina, a Organização Socialista Internacionalista (OSI), a Libelu ganhou fama por ser o primeiro grupo a retomar a palavra de ordem “abaixo a ditadura” desde a instauração do AI-5 (Ato Institucional Número Cinco).
Entre as décadas de 1970 e 1980, “libelu” virou adjetivo, chamou atenção da mídia e dos militares. Era sinônimo de radicalidade e, para os adversários, inconsequência. Tinham fama de darem as melhores festas do movimento estudantil e eram fãs de rock (algo estranho à esquerda mais tradicional). Com a abertura política e o surgimento do Partido dos Trabalhadores, a OSI se tornou a corrente “O Trabalho”, e a “Liberdade e Luta”, sua expressão estudantil, deixou de existir. Quatro décadas depois, a vida de quem fez parte da Libelu apontou para caminhos dos mais diversos, tanto no espectro político quanto na visão que os próprios libelus têm de seu passado trotskista.


Ficha técnica
“Libelu – Abaixo a Ditadura” | 2020 | 90 minutos | documentário
Direção e roteiro: Diógenes Muniz
Produção executiva: Letícia Friedrich
Direção de fotografia: Félix Lima
Montagem: André Felipe
Assistente de direção e pesquisa: Bianka Vieira (Jornalismo ECA 2015)
Assistente de produção e de fotografia: Ana Rovati
Som direto: Eder Boldieri e André Silva
Assistente de produção executiva: Henrique Schuck e João Saldanha
Colorista: Guilherme Begué
Edição de som, efeitos sonoros e mixagem: MDOIS
Trilha sonora original: Samuel Ferrari, Tiago Jardim
Trilha sonora adicional: Hilton Raw
Produtores: Letícia Friedrich e Lourenço Sant’Anna
Produção e distribuição: Boulevard Filmes
Coprodução: Boulevard Filmes, Canal Brasil, Globo Filmes e Globo News
Entrevistados do filme
Alex Antunes: escritor e produtor cultural (Jornalismo ECA 1978)
Anne Marie Sumner arquiteta e professora (FAU 1974)
Antonio Palocci Filho: ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil (Medicina USP Ribeirão Preto 1978) entrevista concedida durante prisão domiciliar)
Cadão Volpato: escritor e vocalista da banda Fellini (Jornalismo ECA 1975, Ciências Sociais FFLCH)
Cleusa Turra: jornalista (Filosofia FFLCH)
Demétrio Magnoli: jornalista e cientista social (Jornalismo ECA 1977, Ciências Sociais FFLCH 1978)
Eduardo Giannetti: economista e escritor (Ciências Econômicas FEA USP 1975)
Eugênio Bucci: articulista do Estadão e professor da ECA-USP (Jornalismo ECA 1978)
Fernanda Pompeu: escritora (Cinema ECA 1977)
José Arbex Junior: professor e jornalista (Jornalismo ECA 1977)
José Genulino Moura Ribeiro (Pinho): (Jornalismo ECA 1975)
Josimar Melo: crítico gastronômico (Arquitetura FAU)
Julio Turra: assessor político da CUT (Ciências Sociais FFLCH 1973)
Laura Capriglione: repórter Jornalistas Livres (Física USP, Ciências Sociais FFLCH 1978)
LS Raghy: artista gráfico (Artes Cênicas ECA 1975)
Markus Sokol: membro da Comissão Executiva Nacional do PT e dirigente da corrente O Trabalho (Ciências Econômicas FEA 1973)
Paulo Moreira Leite: ex-diretor da Época, colunista do Brasil 247 (Ciências Sociais FFLCH)
Reinaldo Azevedo: jornalista e autor de “O País dos Petralhas” (Jornalismo Universidade Metodista 1978, Letras FFLCH 1979)
Renata Rangel: jornalista (Jornalismo ECA)
Ricardo Melo: jornalista e ex-presidente da EBC (Ciências Econômicas FEA 1973)