A magia das amizades ecanas

Ilustração gerada por IA sob comandos de Jennifer Monteiro
Ilustração gerada por IA sob comandos de Jennifer Monteiro

“E lá no fundo azul,
Na noite da floresta,
A lua iluminou,
A dança, a roda, a festa…”

Por Nabil Arida

Era uma vez uma floresta, uma floresta mágica, lúdica, mística talvez, psicodélica às vezes. Uma floresta onírica (como que saída da icônica canção “O Vira”, dos Secos & Molhados, interpretada por Ney Matogrosso), floresta diversificada, estranha, marcante e diferente de tantos outros habitats do enorme ecossistema da USP.

Essa é uma história que remonta há quase 40 anos, mas para alguns, talvez uns 50, a outros pioneiros, mais de 60. Para os novos habitantes da floresta, vão jurar que tem apenas 4 anos, ou 3, ou 2, ou 1….Um tempo atemporal.

A floresta tem uma rica fauna. Bichos e insetos das mais variadas espécies. Diferentes cores, diferentes hábitos (hábitos diurnos, hábitos noturnos, uns até vespertinos). Tão diferentes e iguais. Talvez tão iguais e diferentes. Ah! Essa dialética dessa floresta transcendia a lógica cartesiana. As cores, as nuances, os brilhos, os mimetismos, as metamorfoses, os vertebrados, os invertebrados, os sons, as melodias, os aromas, os sabores, as texturas variadas, o encanto da floresta mágica e seus perfumes inebriantes.

Uns corriam mais, outros voavam mais, outros nadavam mais, outros escalavam mais, outros se camuflavam mais, outros se escondiam mais… Eles todos estavam predestinados a serem mais.

Sabiam usar seus instintos, suas criatividades, suas intuições e suas magias. Se adaptavam à paisagem, confrontavam a paisagem e, quando lhes interessavam, faziam até cara de paisagem.

Enalteciam o nascer e o pôr do sol, ora hibernavam, ora não dormiam, ora em enxames festivos, ora em solidão criativa. Sabiam aproveitar a correnteza dos riachos, sabiam saborear os tempos de chuvas, sabiam refletir nos tempos de seca, sabiam sentir a direção dos ventos e os odores que vinham das flores, as fragrâncias dos orvalhos nas folhas, os cheiros escondidos, sabiam enaltecer seus próprios sons e perceber os alheios, sabiam profundamente, cada um, extrair a rica essência vital de seu próprio silêncio…

Talvez vocês estejam se perguntando sobre as habilidades desses bichos, que bichos seriam esses dessa mágica floresta?

Pois bem: há os camaleões das artes cênicas, mudando de cor e se adaptando ao ambiente, transmutam encarnando diferentes personagens, roupagens, em tantas performances nos altos galhos como na relva.

Há também as borboletas das artes plásticas, visuais, coloridas, expressivas e em constante metamorfose, com uma criatividade fluida. De um cenário em branco, de uma pedra amorfa, de repente o transformam voando por aí deixando rastros de tinta mágica nas flores, esculpindo formas no espaço.

Há os audiovisuais, como os vagalumes cineastas, contando histórias com luz e sombra, projetando na escuridão cenas nas folhas, numa montagem precisa em cortes e panorâmicas. A eles se juntam os grilos saltitantes de rádio e TV, comunicativos e cheios de presença sonora, tendo algo a dizer frame a frame, numa crescente locução mágica de sons, saltos e os sobressaltos da plateia.

Tem ainda as formigas tão organizadas da biblioteconomia, disciplinadas, detalhistas e trabalhadoras, num invejável método de precisão, catalogando, estocando o que tantos outros da fauna iriam usufruir.

Assim como também as rãs da editoração, tão coesas, num lago encantado são discretas, atentas e ágeis, conectando mundos, da superfície ao submerso, cada página de livro encantado passa por elas antes de ganhar vida, pois elas dão ritmo à paisagem literária, mesmo que poucos percebam sua música essencial, todos se beneficiam.

Vieram recentemente também as corujas da educomunicação, numa revoada nova, guardiãs do conhecimento, silenciosas e sábias para disseminarem o aprendizado da floresta. E assim bailam corujas e pirilampos.

Também há as abelhas do jornalismo, incansáveis, sempre em busca de novo néctar de informação, voam por toda a floresta, as mais éticas não se levam por ventos favoráveis, colhendo e arduamente processando o mel ou o fel da realidade.

Ainda temos as cigarras e os passarinhos da música, compõem, regem e cantam o tempo todo, juntos ou isolados, a qualquer época, qualquer estação, inclusive as de Vivaldi, onde nessa floresta mágica fazem ecoar melodias que embalam entre os sacis e as fadas.

Há também as libélulas de relações públicas, transitando suavemente entre os diferentes grupos, todos as conhecem: charmosas, elegantes, com habilidade de manter a paz, harmonia e a boa imagem de todos.

Tem ainda os esquilos do turismo, curiosos e inquietos, vivem descobrindo trilhas e tesouros escondidos na floresta. Organizam tours mágicos e sabem contar histórias sobre cada pedra ou folha mística. Das raízes aos mais altos galhos.

E finalmente, meu grupo de colibris e beija-flores. Confesso que vim de uma outra vasta selva altamente competitiva e sangrenta, não muito longe dali. Estava concluindo o último ano da engenharia, era um gavião de rapina e acidentalmente, cansado e buscando repouso, fui acolhido, não por acaso, numa transmutação para ser beija-flor (já disse que a floresta é mágica?). Sinto ter completado o ciclo nessa linda floresta em apenas 3 anos, porém tive o privilégio de conviver com lindos e variados bichos encantados do dia e da noite. Os colibris e beija-flores publicitários, publicidade e propaganda, tão mágicos: pequenos gênios da agilidade criativa, que bebem o néctar das ideias e polinizam o mundo com mensagens vibrantes, deixando beleza e impacto por onde voam, tal qual a leveza das libélulas, propagando as habilidades de todos os demais bichos, afinal todos interagiam naquela mágica floresta.

E esse era (e ainda é) exatamente o segredo das amizades ecléticas e atemporais da magia dessa floresta: todos interagiam (e interagem) com todos, essa é a grande magia visível e invisível.

Todos aprendiam com todos. Todos trocavam experiências com todos, fossem nas sinfonias ou no silêncio. A amizade entre eles se perpetua, afinal essa tribo mágica, de uma floresta mágica, de bichos mágicos, unindo técnicas mágicas e artes mágicas, se comunicam com a magia do coração criativo, com o acolhimento sem pré-julgamentos, com o humor, com a genialidade dos loucos. Sabem em segredo (e mesmo assim alardeiam) que a mágica floresta deles / nossa, por mais que migrem para distantes ou inóspitas paisagens, mantém a sabedoria de que somos todos, absolutamente todos, sobreviventes emocionais.

Sabemos e sentimos que não é apenas uma floresta mágica: é um verdadeiro oásis no deserto da mesmice, um refúgio da alma livre, criativa e pensante.

Éramos várias tribos de diferentes bichos. E todos com o mesmo destino, não por acaso, de fazermos parte um da vida do outro. Nossas histórias estão entrelaçadas. Já disse a vocês que a floresta é mágica?

Se perdemos um pouco do ímpeto jovial, ganhamos na sabedoria do questionamento sobre o que realmente vale à pena, sucessos midiáticos efêmeros e ilusórios ou não? Afinal, que magia é essa que nos mantém a alma molECA?

Unidos por encontros, desencontros, reencontros, nostalgias, risadas, a festa, as dores, as superações, a resiliência na arte, comunicar às nossas próprias almas o seu propósito. Carregamos incrustada a ética da lealdade, da roda da irmandade atemporal, das amizades, da confraria dessa floresta mágica, no dia, na noite, ao luar, num céu de fundo azul.

“E lá no fundo azul,
Na noite da floresta,
A lua iluminou,
A dança, a roda, a festa…”

Nabil Arida fez Publicidade e Propaganda na ECA entre 1984 e 1986, junto com a turma do noturno de 1983. Também estudou na Escola Politécnica da USP (Poli) entre 1980 e 1985.

Turma 1983 ontem e hoje

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