Criado em 2020, Centro de Documentação Teatral da ECA-USP é uma entidade acadêmica essencial para a pesquisa e a preservação do teatro no Brasil
O que é o CDT
O Centro de Documentação Teatral (CDT) é uma entidade de custódia que abriga, conserva, preserva e disponibiliza para consulta material sobre o teatro brasileiro – em especial, o teatro paulista. O centro reúne material de arquivo, bibliográfico, museológico, além de conduzir pesquisas. Por estar dentro da universidade, também apoia grupos de pesquisa que tenham relação com documentação. O CDT é coordenado pelo chefe do Departamento de Artes Cênicas (CAC), atualmente o professor Sérgio de Carvalho.
O CDT tem origem em uma iniciativa do final dos anos 1990, quando o Departamento de Artes Cênicas começou a estruturar um centro de memória a partir do acervo do professor emérito, crítico e cenógrafo Clóvis Garcia. Esse conjunto documental foi doado à ECA e organizado no projeto de pesquisa batizado de LIMCAC (Laboratório de Informação e Memória do CAC), que funcionou por alguns anos. Em 2003, quando a historiadora e pesquisadora Elizabeth Azevedo tornou-se professora do CAC, recebeu a tarefa de organizar o acervo do LIMCAC – agora com a missão de transformá-lo em um centro de documentação do teatro paulista, algo inédito no Brasil nesse formato. Em 2020, a entidade passou a se chamar Centro de Documentação Teatral.
Teatro paulista
O teatro paulista tem uma história de grande relevância, especialmente a partir da metade do século 20. Todo esse legado, porém, carecia de um espaço adequado de preservação. “Não é fácil encontrar instituições que recebam essa documentação, ainda mais a documentação completa, com todos os tipos de material documental: peças, fotografias, figurinos, maquetes, depoimentos, áudios, fitas, vídeos, tudo o que se relacione com o teatro. Lembrando que estou falando de Teatro e não de Artes Cênicas, pois não conseguiríamos abarcar Dança, Circo etc”, explica a professora Elizabeth, formada em História pela USP, com mestrado e doutorado em Teatro pela ECA e atualmente vice-coordenadora do CDT.
Ao longo do tempo, o acervo do CDT foi recebendo novas doações, tanto de professores quanto de nomes ligados ao teatro paulista, como Gianfrancesco Guarnieri, Ruth Escobar, Antunes Filho e Bárbara Heliodora – que, embora tenha sido crítica e professora no Rio de Janeiro, foi aluna da USP.
Acervos
O CDT conta atualmente com 65 acervos. Um dos destaques é o acervo da sonoplasta paulista Tunica Teixeira, pioneira da sonoplastia no Brasil desde os anos 1970. A partir desse acervo foi criado o projeto de pesquisa Jovem Pesquisador, apoiado pela Fapesp – o único acervo de sonoplastas do país, recentemente ampliado com o material do sonoplasta Raul Teixeira e de outros profissionais da área. “É um acervo de profissionais ligados ao som, não apenas à composição musical, mas à sonoplastia de maneira mais ampla, o que também não existe em nenhum outro lugar do Brasil”, explica a professora Elizabeth. Esse projeto é coordenado pela pesquisadora Rafaella Uhiara, formada em Artes Cênicas pela ECA (turma 2003).
Entre as aquisições recentes, destaca-se o riquíssimo acervo da jornalista Cecília Thompson, com todos os seus diários desde 1964, além da coleção de Vicente Ancona com peças do século 18, incluindo folhetos de teatro popular inexistentes na Biblioteca Nacional do Brasil e na de Portugal. “Temos materiais muito raros e muito importantes”, orgulha-se Elizabeth.
Outro destaque é o acervo do pesquisador José Cetra, contendo uma vasta coleção de programas do teatro do paulista desde os anos 1960.
Grupos de pesquisa do CDT
Raros e Inéditos – realiza o levantamento e a disponibilização da dramaturgia do século 19. O grupo já reúne quase 500 peças, num projeto documental inédito no país. Projeto em andamento com viés documental, com a missão de agrupar essa dramaturgia, em parceria com o professor titular aposentado de Literatura Brasileira João Roberto Farias, da FFLCH-USP.
Inventário da Cena Paulista – coordenado pela professora Elizabeth Azevedo, faz o levantamento histórico de todos os teatros existentes na cidade de São Paulo, desde a Casa da Ópera em 1763 até os espaços contemporâneos. Financiado pela Fapesp e pelo CNPq, o projeto é realizado por etapas – a mais recente cobre até 1950.
ETEx – Estudos do Teatro Ex-Cêntrico – propõe uma renovação da historiografia teatral brasileira, com novos estudos sobre temas já conhecidos ou outros pouco abordados, buscando dar visibilidade a peças, autores, gêneros, repertórios e círculos teatrais não consagrados.
Traje em Cena – estuda os figurinos como documento teatral, com coordenação do professor Fausto Viana.
Arquivos Sonoros de Teatro – linha de pesquisa inédita no Brasil, dedicada ao estudo da dimensão sonora dos espetáculos em sua totalidade, coordenada pela pesquisadora Rafaella Uiara.
Além dos acervos e dos grupos de pesquisa, o CDT também produz publicações, entre elas relatórios de bolsistas que refletem sobre questões do acervo, estudos e reflexões de temas abordados no trabalho de organização do material abrigado pelo centro.
Doações
Todos os acervos do CDT são fruto de doações voluntárias, já que a entidade não dispõe de verba para aquisição de acervos. O termo de doação prevê que todo o gerenciamento do acervo doado passa a ser de responsabilidade do CDT e fica submetido às suas políticas de acervo, descarte e empréstimos. “Procuramos disponibilizar e facilitar o acesso aos acervos o mais rápido possível para pesquisa”, explica Elizabeth.
Em geral, as pessoas entregam o material diretamente no centro. Os acervos passam por tratamento físico e intelectual, com etapas de higienização, conservação, preservação, reparo, restauração e acondicionamento. As doações são descritas na base de dados e metadados do CDT para que possam ser acessadas pelos pesquisadores e, sempre que possível, são digitalizadas para preservação e divulgação.
“Não temos um grande projeto de digitalização, como gostaríamos, porque com os poucos recursos disponíveis entendemos que é mais importante descrever o material – para que as pessoas saibam que ele exista – do que procurar digitalizar tudo, o que levaria muito mais tempo. Não temos estrutura para digitalizar 100% do material, mas podemos digitalizar sob demanda de pesquisadores fora de São Paulo e do Brasil”, diz a professora.
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O ÁgoraECA também colaborou: o designer Giu Guerra, integrante da equipe, doou programas de peças de teatro das décadas de 1950, 1960 e 1970 que pertenciam à sua família e estavam em bom estado de conservação. Esses programas eram dos principais teatro da cidade de São Paulo no período, como Cultura Artística, Maria Della Costa, Municipal, Bela Vista e Ruth Escobar.
O CDT atualmente está localizado nos Núcleos de Pesquisa da ECA, do outro lado do prédio principal (Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, Prédio 9, Sala 13 – Cidade Universitária). E o Projeto do Som está localizado em algumas salas do Espaço das Artes (antigo prédio do MAC).
No início de 2026, o CDT mudará para um novo local: o espaço que costumava ser ocupado pelo IEB está sendo reformado pela reitoria, onde será criado um centro de documentação para a ECA. Será um espaço com mais estrutura e recursos de preservação e conservação da documentação, contando com climatização, sistema de segurança moderno, mobiliário, estantes deslizantes, laboratório de digitalização. Esse projeto, que concorrerá a um edital da Fapesp, está sendo coordenado pelo professor Fausto Viana.
Contato: cdt@usp.br | (11) 3091-8203 | site: www.cdtusp.com.br
