
Professor, amigo e coautor da vida
Numa aula na ECA, num longínquo 1987, eu dava um seminário sobre um livro na disciplina de Cinema Brasileiro. Li o livro e fiz um belo resumo em aula. Daí o professor, com seu inseparável sotaque francês, olhou pra mim e perguntou: “e daí?”
Eu olhei pra ele sem entender. Ele insistiu: “Já vimos que você leu o livro, mas qual tua opinião, qual tua visão crítica?” Olhei atônito pra ele, pra classe e descobri que não tinha visão crítica nenhuma. Derrotado, me sentei em silêncio e saboreei o fracasso.
Desde então nunca mais me afastei do professor, que virou meu orientador no mestrado, colega do Nudrama, cotradutor de peças francesas, coroteirista do filme “Hoje”, codiretor da peça “A Procura de Emprego”, codiretor do filme #eagoraoque, codiretor do filme ainda sem título que estamos há alguns anos fazendo com Emily, mas, mais do que tudo, virou um grande amigo, um puta amigo, um coautor da vida.
Jean-Claude, meu caro, você que sempre me surpreendia, que mudava de opinião a toda hora, que amou nosso cinema mais que ninguém, que amava a vida e uma boa caipirinha, que conjugou rigor com amor de forma sublime, que me ensinou o que é uma visão crítica, só posso te dizer uma coisa: obrigado, por tudo! Você vai sempre estar ao meu lado! Difícil vai ser imaginar como será o mundo sem você…



Rubens Rewald é da turma de Cinema 1985 da ECA, onde também fez mestrado e doutorado e hoje é professor de Dramaturgia Audiovisual e chefe do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR). Escreveu e dirigiu longas ficcionais e documentais, séries e documentários para TV. Entre alguns de seus filmes estão “Esperando Telê”, “#eagoraoque”, “Segundo Tempo” e “Jair Rodrigues – Deixa que Digam”.