Jean-Claude por Sabina Anzuategui, professora e escritora

Jean-Claude Bernardet em foto de Heloísa Jahn, durante as sessões de entrevista para a autobiografia dele, em 2021
Jean-Claude Bernardet em foto de Heloísa Jahn, durante as sessões de entrevista para a autobiografia dele, em 2021

Viver o medo

Em “Viver o Medo”, novela de memórias que escrevemos juntos, em 2024, dei o nome de Remy ao personagem inspirado no artista Jacques Douchez. Jean-Claude desejava trocar os nomes das pessoas reais que apareciam em suas lembranças. O episódio do livro traz cenas de Douchez e Mozart Pellá, jovem artista que participou do Ateliê Abstração, de Samson Flexor. Pierre Montouchet também era um amigo dessa época, do Liceu Francês, e amigo de Mozart, talvez.

De todas as histórias de Bernardet, me comovem essas amizades de juventude: Montouchet, Jean-Marc, Douchez, Roland. Imagino como foi, nos anos 1950, descobrir-se, formar uma identidade em meio à moral conservadora, sem as redes de apoio que surgiram nas décadas seguintes.

Jacques Douchez, escreveu Jean-Claude, foi seu melhor professor no Liceu. As memórias de formação, de quando se tornava adulto, permaneceram com ele até o final. Aos 87, esboçando seu último projeto (Viver o medo), Bernardet recuperava a memória daquele professor, e dos caminhos de vida que este lhe abriu.

Também conheci Jean-Claude aos 18, 20 anos. Também sigo no caminho que ele me mostrou. Depois de sua morte, voltei ao apartamento do Copan, para buscar dois últimos presentes: sua lupa de leitura e as canetas grossas que ele usava para escrever. Na sala já vazia, havia uma pintura sem moldura, empoeirada, encostada à parede. Vi a assinatura: Douchez, 1952.

Sabina em foto de Dani Sandrini
Sabina em foto de Dani Sandrini

Sabina Anzuategui tem bacharelado, mestrado e doutorado pela ECA. Formou-se em Cinema e Vídeo (turma 1993), fez mestrado em Comunicação e Estética do Audiovisual e doutorado em Meios e Processos Audiovisuais. Professora e escritora, trabalhou como roteirista em vários longas e é criadora do canal de vídeos “Exercícios de Criação Literária” e da série em quadrinhos “Pérolas Perdidas”.

Com Jean-Claude, escreveu em 1998 o roteiro de “Uma Noite Não é Nada”, do diretor Alain Fresnot, filme lançado 20 anos depois, em 2018. Os dois fizeram parte do grupo de pesquisa Nudrama, de 1999 a 2012, que se dedicava a consultoria criativa de roteiros de longa-metragem. Em livro, escreveram “Wet Mácula”, a partir do projeto de Heloisa Jahn, e “Viver o Medo”, que será lançado em setembro. Estavam trabalhando em um novo livro, de título provisório “Thomas e Georgia”. Jean-Claude deixou pronto o capítulo dele, chamado “Feira Livre” e Sabina planeja finalizar esse livro até o final do ano.

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