Em 1985, fui pra ECA, a lendária Escola de Comunicações e Artes da USP. Cheguei de Ribeirão Preto, tímido, com uma expectativa robusta, maior do que minha timidez. Sonhava em ganhar o mundo, trabalhar pra Veja ou TV Globo, abusar da juventude. E experimentar o que meus sentidos, ou a falta deles, alcançassem.
Descia a Rebouças de ônibus observando o InCor, onde Tancredo Neves morria um pouquinho a cada dia. Lembro das aulas no Básico tentando (des)entender os pensadores neomarxistas da Escola de Frankfurt. E as festas, poucas e loucas, vômitos indômitos, com “Relax”, de Frankie goes to Hollywood, torando na caixa.
Aí veio o Amural, nosso jornal pós-pré-Pietro, potencial de “Planeta Diário” que faleceu prematuro após o escândalo do cartaz. Exagerado até para aqueles tempos em que (quase) tudo podia na seara do (mal) humor e que melou nossas relações com os professores.
Fomos para Ouro Preto achando que quebraríamos tudo, até o Pico do Itacolomi. E pro Rio, no Noites Cariocas, ver Louras Geladas do RPM. Em agosto eu já vivia na República do Mocó, em pleno BNH da Diógenes do Alto de Pinheiros. Mais festas e vídeos, “A modelo” e “Kaiadekuatru”.
Finados, permanecemos incrivelmente vivos em “Nós vamos invadir sua praia” em Caraguá. Choveu cântaros com trovoadas de bentil e moderex. O melhor era voltar pro CA, nosso Centro Acadêmico, sem luta armada e libelu, apenas assim divergências no pebolim e com os punks.
Tempos de Perseu, Civil, Coxinha e outras carroças extremamente fósseis. “Cuidaids” era até outdoor, assim como o futebol no gramado. Eram dias de rock e arrojo, sem vestígio de sertanojo, e de monografia de final de semestre, datilografada e até vendida, mestre!
Havia também a tentadora piscina do Cepeusp, o salva-vida Prosdócimo, gororobas no bandejão do Crusp, Rei das Batidas. E as eleições e apurações no Anhembi com Jânio surpreendendo FHC, ou seria THC – pobre São Paulo, pobre paulista! Ao som The Cure, Smiths, U2, Stones, Titãs, Legião, Madonna, Police.
Saudade de 1985, ano seminal, seminu, terminal, hiperinflacionário. Sem ele não seria quem sou, ainda estou lá, ainda estou aqui. Teremos festa?
