Adriana Komives (1964-2022)

Turma de Cinema – 1982

Adriana Komives nasceu em São Paulo, numa família de origem húngara. Em 1982, entrou na ECA para estudar Cinema, sua grande paixão. Muito jovem, aos 20 anos, ganhou uma bolsa de estudos do governo francês para um estágio nos Ateliers Varan em Paris, permanecendo na cidade desde então. Concluiu seus estudos superiores no Institut des Hautes Études Cinématographiques, atual École Nationale Supérieure des Métiers de L’Image et du Son (conhecida como La Fémis) e se profissionalizou.

Durante 25 anos, dedicou-se ao audiovisual, fazendo carreira como montadora, roteirista e realizadora de curtas-metragens, documentários, animações e instalações expográficas, colaborando com diversos cineastas e artistas plásticos em vários partes do mundo, incluindo o Brasil. Atuou também como professora de montagem e roteiro na França em diversas instituições (Institut National de l’Audiovisuel, La Fémis, Fresnoy, Doc Nomads) e conduziu Ateliers Varan para escrita de documentários no Brasil, Portugal, Albânia e Colômbia.

Adriana faleceu no dia 8 de abril na França, onde vivia há quase 40 anos, tendo deixado o filho Léonard e a filha Irène. Sempre manteve vínculos fortes com o Brasil e com sua imensa rede de amigos de infância, da ECA, dos profissionais com os quais cruzou ao longo de suas múltiplas andanças e projetos realizados no Brasil. A ascendência judaica húngara foi um elemento importante na constituição de sua subjetividade. Seu filme “TransOcean” recupera o percurso das diásporas vividas pela família e por ela própria e é o maior exemplo de seu espírito, que ficará conosco.

Colaboração: Daisy Perelmutter e Helena Tassara

Para conhecer o trabalho da Adriana: https://adriana-komives.com/

Pelos olhos de quem a conheceu

 

Adriana Komives

“Carismática, solar, intensa, gregária, curiosa, multitalentosa e multicultural, nossa querida amiga Adriana foi assim, entre tantos outros atributos seus.”

Daisy Perelmutter e Helena Tassara (Cinema, 1982)

Adriana Komives

“Adriana, você me ensinou a não desistir de nossos sonhos. Você sempre soube o peso de suas decisões. E a vida lhe mostrou como ela é ampla para todos os seus lados. E você conheceu todos. Aprendi muito contigo. A jornada segue em planos desconhecidos.”

Walter Tabacnik (Cinema, 1982)

“Como num filme noir nos encontramos em Paris em 1986. Ela já estava cursando a escola de documentário. Como num filme tropicalista, ajudei-a a filmar o Rui Chapéu na avenida Ipiranga. Envelhecemos, ficamos doentes, mas o encanto mútuo nunca acabou. Na montagem da vida, uma hora o filme tem que acabar, embora viva para sempre na nossa memória.”

Marco Giannotti, professor do Departamento de Artes Plásticas da ECA

Adriana Komives

Ela era um pedacinho da França naquela turma. Charmosa, inteligente, um jeitinho brejeiro de falar das coisas mais complicadas. Tenho flashes dela com a câmera na mão, rindo de piadas, atuando em algumas dramaturgias exóticas do primeiro ano ao meu lado (será que isso aconteceu?), flanando com seu cabelo chanel (será também?) nos corredores da ECA. Não tenho certeza de nada. Mas de uma coisa sim: Adriana marcou a nossa turma, com sua força meiga, sua boca linda, sua inteligência tropical-francesa. Inesquecível, querida Adriana Komives. Eterna.”

Míriam Scavone (Jornalismo, 1982)

Adriana Komives

Cumplicidade fotográfica. Imagem latente que magicamente surge em preto e branco sobre papel fotográfico. A luz vermelha delineia a tez jovem do grupo que se encanta com a descoberta: a materialidade da química-sombra-luz da fotografia. Meu olhar, cúmplice desse momento, busca na memória o narizinho pontudo, os olhinhos sorridentes e a boca expressiva, iluminada de vermelho, da nossa Adriana. Um dia, ela foi determinada para a França e lá construiu seu legado, que deixou para o mundo: carreira, família e muitos amizades. A minha felicidade, que se confunde com a profunda tristeza, num choro contido, é saber que as décadas não me impediram de eu fazer, para ela, essa homenagem.”

Glaucia Davino (Cinema, 1983)

Adriana Komives

“Adriana foi uma daquelas pessoas que passou como um cometa radiante na vida da gente. Uma pessoa cheia de vida, transbordante, com seu jeito único de ser, sua forma singela de se expressar… que cativou todos que tiveram contato com ela e iluminou todos por quem passou.”

Nilton Sperb (Cinema, 1983)

Adriana Komives

“A Adriana era minha colega de classe, mas só nos conhecemos melhor quando comecei a ter aulas particulares de francês com ela. Depois disso nos tornamos muito próximos e posso dizer que ela me ensinou, além do francês, muito sobre beleza e poesia. Acabamos por fim indo morar em países diferentes e nos afastamos um pouco. A última vez que a vi passamos um fim de semana na praia com nossas famílias e ela me disse: ‘Puxa, Adauto, passamos anos sem nos encontrar, mas parece que nos vimos ontem mesmo’. Acho que essa foi sua última lição: a verdadeira amizade é para sempre e não importam o tempo e a distância. Agora essa princesa foi encantar outros reinos. Um beijo doce, Adriana, nos veremos de novo em alguma dimensão de algum outro universo.”

Adauto Araujo (Cinema, 1982)

Na época da faculdade, a Heleninha Tassara deu uma festa de aniversário num casarão abandonado, enorme, não recordo mais onde era. A balada foi superlegal. Lembro de estar meio amuado, não sei bem por quê. Decidi subir ao 2º andar da casa e logo fiquei por lá, sozinho, olhando a movimentação da galera através de uma varanda semidestruída. Não sei como, a Adriana me viu ali, solitário e sorumbático, e prontamente veio falar comigo. Olhei pra ela e a vi sorrindo, alegre e animada. Ela parou ali ao meu lado e ficou. Não tenho mais registro do que conversamos, mas lembro bem da sensação boa que aquele papo deixou em mim. Como por mágica, a depressão simplesmente esvaiu-se entre as nossas risadas. Era o que eu precisava pra mudar de humor e passar a curtir a festa. Adriana, muito obrigado pelo seu carinho pra lá de especial.”

Sylvio Pinheiro (Publicidade e Propaganda, 1982)

Fotos:

Adauto Araujo (1, 2, 3) e Karin Nielsen (4, 5, 6, 7, 8)

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There is 1 comment
  1. Cid

    Que bela homenagem à Adriana !
    Ela merece, e muito mais!!
    Sua passagem marcou nossas vidas.
    Saudades de você, minha querida !

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