Fazíamos parte de um mundo pensante, crítico e cheio de energia

Turma de Biblioteconomia 1974. Em pé: Sonia Yole, Marlene Tobal, Aldo Della Monica, Luiz Milanesi (professor), Rachel Marconi, João Garcia, Regina Farber, Mieko Sado, ?, Solange Simões. Agachados: Rita de Cassia, ?, Antonio Fernando Barone
Turma de Biblioteconomia 1974. Em pé: Sonia Yole, Marlene Tobal, Aldo Della Monica, Luiz Milanesi (professor), Rachel Marconi, João Garcia, Regina Farber, Mieko Sado, ?, Solange Simões. Agachados: Rita de Cassia, ?, Antonio Fernando Barone

Imagino que, assim como para muitos de meus colegas, os primeiros momentos dentro da universidade tenham tido as marcas mais permanentes na memória.

Logo no primeiro dia, a recepção por parte dos veteranos, naquilo que seria um “trote” diferente das demais unidades da USP e já com forte apelo à questão política e que envolvia a ECA e seu diretor (que diziam tratar-se de um agente do regime militar). Posteriormente parte daqueles veteranos ativos, os quais pertenciam ao Centro Acadêmico, seriam figuras importantes dentro do movimento Liberdade e Luta (Libelu). Movimento que atuou praticamente durante todo o período em que minha turma cursou a ECA.

Dos primeiros professores, ficaram marcados os nomes de José Mario Vilches (um chileno que nos introduziu a Teoria da Comunicação), do professor Virgílio (acredito porque tenha levado nossa turma a uma visita ao Museu do Folclore, no Ibirapuera) e de Luiz Milanesi (que se mostrava um tanto diferente quanto ao método de aulas ao propor um trabalho final como forma de avaliação para final de semestre e que foi a dor de cabeça de muitos colegas).

Fatos importantes de que me lembro são todos ligados ao momento político vivido e que, me parece até hoje, fazia da ECA juntamente com a FAU e a História as principais unidades da USP a levantarem questões e movimentos contra o regime militar.

Em 1975, com a morte de Vladimir Herzog, que ministrava algum curso na ECA, houve manifestações tanto no campus quanto aquela grande aglomeração na praça da Sé, quando da realização da missa em luto por sua morte.

Particularmente cursei e me formei em Biblioteconomia e Documentação e posteriormente completei os dois últimos anos formando-me também em Jornalismo. Fora do horário de aulas, trabalhava.

Em um apanhado geral, fica, na verdade, muito mais a vivência que mantive nos corredores e espaços abertos da ECA, com alguns poucos amigos com quem mantinha contato e conversas constantes. Especialmente com Antônio Fernando Barone e João Rodrigues Garcia (ambos alunos de Biblioteconomia). Barone vive há alguns anos em Portugal, onde doutorou-se e leciona em faculdade – enquanto cursávamos Biblioteconomia, éramos colegas de trabalho na Fundação Getúlio Vargas, onde atuamos na seção de Referência ao longo de três ou quatro anos.

De maneira geral, acredito que o que tenha permanecido de minha vivência na ECA daqueles tempos tenha sido o estabelecimento de uma visão crítica da sociedade em geral e, mais especificamente, em relação à atuação dos meios de comunicação.

Após atravessar pela última vez o Rio Pinheiros, que separa o campus da universidade deste universo aqui de fora, só então pude perceber que fazíamos parte de um mundo pensante, crítico e cheio de energia, cujas características eram o que menos interessava a este mundo dalém rio. Um mundo que, tristemente assim se mantém até hoje.

Aldo Della Monica (Biblioteconomia 1974; Jornalismo 1978)

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Depoimento originalmente concedido a Luiz Milanesi em janeiro de 2017 por ocasião dos 50 anos da ECA.

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There are 2 comments
  1. João Garcia

    Parecia que as coisas aconteceriam a partir daqueles anos.
    Obrigado pelo compartilhamento de suas lembranças, Aldo.
    Abração a toda nossa turma!

  2. Fernando Barone Barone

    Lembranças felizes. Gostei de me ver várias vezes magrinho.Olhar para o infinito é bondade poética.Obrigado Aldo. Abraços a todos e boas festas.
    Fernando dezembro 2023

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