![Thiago Arrais Pereira é mestre em Artes Cênicas pela ECA Thiago Arrais Pereira é mestre em Artes Cênicas pela ECA](https://www.agoraeca.com.br/wp-content/uploads/2023/08/Thiago-Arrais-Pereira-600x600.jpg)
Zé foi um dos maiores homens de teatro da História
Na vida, não temos um único pai. Nem mãe. O pai é quem nos faz seguir adiante. A mãe, quem nos acolhe da longa jornada. Zé tem o mesmo nome do meu pai familiar. No cristianismo, todo pai é José. Graças ao Zé não abandonei o teatro. Agora, órfão, seguir no teatro depende de mim somente. Já não sou mais só filho. Tive de aprender a ser pai também. Soube da morte de Zé com meu pequeno filho ao lado. A vida é cíclica, queiramos ou não. Brasa e cinza.
É curioso eu chamar o Zé de pai, porque ele faz parte de uma geração que quis matar a família, matar o pai. Nunca quis ter filhos. Mas o pai não morre. O pai é uma ausência necessária, mesmo quando o matamos. Lembro do Deus-Pai ausente de Caim e Abel. Lembro da nossa orfandade, miserável e libertadora.
Zé era o mestre que queria me devorar, de todas as formas, como eu o devorei, com o medo habitual dos filhos que aprendem. Tenho orgulho de ter sido seu aprendiz. De ter aprendido tudo, ou quase tudo, no tempo em que moramos e trabalhamos juntos. Tenho orgulho de ter sido aprendiz, simplesmente. De entender que sozinho se é bem pouco, justamente porque, no final das contas, somos sozinhos.
Zé ardeu e morreu. É como uma fogueira, essencial, que se apaga. Ele foi um dos maiores homens de teatro da História, com uma inteligência, muito mais que intelectual, afetiva, exuberante. Ele é essencial para a cultura brasileira, e, se não fôssemos o país periférico que somos, seria-o também para a cultura mundial. Prantear sua ausência é também reconhecer as cinzas do mundo. Nada se pode fazer quando o fogo se vai. É escuridão. Só não é escuridão maior porque a luz desses gênios brilha dentro de nós.
![O dia em que conheci o Zé Celso, em 2005, no Teatro Oficina, em uma apresentação de “Os Sertões”, creio que o fragmento “O Homem 2”. Desse encontro, pintou o convite para eu trabalhar com ele O dia em que conheci o Zé Celso, em 2005, no Teatro Oficina, em uma apresentação de “Os Sertões”, creio que o fragmento “O Homem 2”. Desse encontro, pintou o convite para eu trabalhar com ele](https://www.agoraeca.com.br/wp-content/uploads/2023/08/Thiago-Pereira-e-Ze-Celso_2005_Teatro-Oficina-1.jpg)
![Esta é de 2007, feita durante a temporada de “Os Sertões” em Quixeramobim-CE, cidade natal de Antônio Conselheiro, interpretado pelo Zé Celso com esse cajado e camisolão de brim Esta é de 2007, feita durante a temporada de “Os Sertões” em Quixeramobim-CE, cidade natal de Antônio Conselheiro, interpretado pelo Zé Celso com esse cajado e camisolão de brim](https://www.agoraeca.com.br/wp-content/uploads/2023/08/Thiago-Pereira-e-Ze-Celso_Quixeramobim_CE_2007.jpg)
Thiago Arrais Pereira, encenador e professor teatral, é bacharel em Direção Teatral pela UFRJ, mestre em Artes Cênicas pela ECA e doutor em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra, Portugal. Trabalhou como assistente de dramaturgia e direção do Zé Celso. Sua tese na ECA foi sobre o Teatro Oficina, com ênfase em “Os Sertões”, peça da qual também foi produtor.